11 julho, 2009

Ode à Afrodite Infinita

Abri as janelas do quarto pra te deixar entrar. Desejo meu. Arfava o peito. Fechei os olhos algumas vezes e tornei a abrir. Resolvi te ligar. A tua voz me escorrendo pelos ouvidos, pelos poros, meio rouca intensa inteira. Eu comi a tua voz no escuro, sem temperos. Só eu e ela ali flutuando na sala. Voltei ao quarto. Desatei a rir porque não entendia a música que tocava. Descompassados os sons atravessavam sem me atingir. Era apenas o meu corpo e a tua voz a matéria que ali existia. Era essencialmente tudo escuro porque também os olhos dilatados não viam as formas. Tontura latente de ti. Eu não quis acreditar. Mas entendi que a vida voltava a me habitar ali naquele momento de transe, com a força e a impetuosidade do primeiro momento de cada ação que se faz.
Durante as horas que se seguiram, não houve outra afetação. Houve quase uma espera, quase uma certeza. Mas eu não poderia ainda dizer isso naquele momento, ah tão inocente. Soube apenas no instante da tua negação. Soube que a todo momento anterior deixara fluir e crescer os pequenos emaranhados de um silêncio sorridente. E agora, não? Tudo bem, não não não. Talvez eu já soubesse antes, mas a certeza prática é de certo modo arrebatadora. Digo de certo modo pra não dar o braço à torcer. Então, quando disseste não, foi que eu te quis mais. Quando encarei a realidade percebi que ela já não era suficiente. Quis e quero. Mais.

4 comentários:

Joana D. disse...

mas uma vez e de novo e de novo.
caindo nessa doçura lamacenta da paixão.

Unknown disse...

oi :)
vim ler o que vc anda escrevendo. fazia tempo que não passava aqui. bem bom.

beijos!love ya.

André Ramiro disse...

ó a gula!

Anônimo disse...

e depois dá-lhe ressaca de paixão!
muuuito belo, muito! :)

voltarei!