02 maio, 2009

Procuro no escuro os traços da boca, beijo, mordo, me concentro. Não encontro. Boca que desmancha, prende-se na minha, pequena, sagaz, fruta madura, morango desmanchado. Eis o processo de encontrar-se novamente. Mas perdida em poros, sons, tempo-espaço, densidade, lágrimas e gotas de chuva. Lambidas na janela do quarto. A cama ausente do corpo. O corpo apunhalado no vidro. Estilhaços de sangue cobrem os olhos. Me deito para descansar mas sei de cor que os convidados estão retidos pela chuva. Cubro os ouvidos para não ser atacada por lembranças. Elas afastam meus dedos e me cospem sorrisos cínicos de felicidade. Toma, vagabunda. A vingança que você merece. Olhos em bolas de cristal. Eu quis. Ficar cega e morrer de amor. Pequenas amêndoas.

4 comentários:

Joana D. disse...

"Pequenos olhos, pequenas amêndoas
Pequenos olhos me aguardam, me agarram na última hora.
Agora adeus, os meus braços e olhos rasos d'água. Meu adeus"

margaridas pisoteadas,a cama ausente do corpo, ou a mente em outro corpo?

Nana disse...

me sinto meiodoida geralmente te lendo.

pq ou eu faço inferências maléficas ou tu é a má.

André Ramiro disse...

e o tempo não cega mais ninguém...

Stella disse...

maravilhoso.