04 setembro, 2013

ok, vamos filosofar um pouco. tem gente, tem muita gente, gente irritante, que promete um mundo que não pode te dar. alguém realmente pode te dar alguma coisa? tem gente que se encanta com você, que faz você se encantar por ela, que te promete coisas que não pode cumprir, mas promete mesmo assim e você aceita. que acredita em você e te chama pra voar. um voo conjunto e sem escalas. um voo rasante e liberto. se joga com você do abismo e promete não soltar tua mão por nada. promete coisas que sabe que não pode cumprir, e promete mesmo assim. o abismo é fundo, não se vê o chão. você plana e alça voo alternadamente. você tem todas as promessas do mundo pela frente. gente que começa lentamente a cortar suas asas, milímetro por milímetro, com uma tesoura sem ponta e sem fio. gente que diz que é necessário, que isso será um aprendizado. você sente a dor da asa cortada, um espasmo atravessa seu corpo e você pensa em voltar para a beirada do abismo. você quer apenas observar as coisas de um lugar seguro. gente que olha nos teus olhos e diz que vai ser melhor assim, que algumas pontas estavam atrapalhando seu voo, que você precisa mudar. você aceita. o resto é uma progressão desenfreada em que você acompanha a própria amputação num misto de delícia e dor. você vai perdendo altura e achando normal. que é para o seu bem, que você está se tornando uma pessoa melhor. você não vê os fragmentos que perdeu pelo caminho. eles flutuam no ar acima de sua cabeça, mas você só sabe olhar pra baixo. quando o baque surdo contra o solo te acorda, você sente a espinha dorsal deslocada pela velocidade da queda. o seu corpo está paralisado e a única coisa que você consegue fazer é abrir os olhos. você está só. você percebe suas asas cortadas até o talo e o sangue seco despontando das omoplatas. ninguém segura sua mão. você vê o céu azul repleto de nuvens e vê seus fragmentos se deslocando pelo espaço, mas não consegue enxergar o pico da montanha, agora perdido entre outros sonhos. você sente o peso do corpo sem asas, o desequilíbrio ao levantar. e você começa a subir pelas encostas rumo à beira do abismo. você está fraco. você respira pausadamente entre um passo e outro. você sobe devagar e se distrai pelo caminho. contempla uma borboleta que passa, uma flor selvagem que cresce. você sobe sozinho. se você encontrar gente no caminho, afastará todas as tesouras e promessas. se não for suficiente, empurrará gente para a morte, arrancando suas asas sem piedade. você manchará as mãos de sangue por gente que te promete coisas que não pode cumprir. você cortará o mal pela raiz e subirá a montanha pleno de felicidade.

Nenhum comentário: